Wednesday, June 11, 2008


MEDOS



Caros mortais, estava eu, placidamente, gozando a minha soledade quando uma querida leitora lançou-me um capcioso e ardiloso desafio: O MEDO, e se os deuses o também sentem medo, eis o tema da prosa de hoje. A prosa não será estudada ou premeditada, meus caros, por isso haverá nela o maior número de verdades possíveis.

Por vezes, caros seres inferiores, deparei-me com muitos mortais afirmando nada temer. Contudo, como sou omnisciente e meu ser perscruta todo o íntimo de um ser mortal, certifico-me sempre de algum tipo de medo em tal mortal. O que me conduz nestas reflexões sobre medos, não é o fato de algum mortal dizer que não os tém, mas a observância dos medos como fato inerente aos seres mortais. É perfeitamente do ser "mortal" ter medo. Se a vida é "ser", por que os mortais temem isso? Por que é tão difícil entregar-se e simplesmente "ser"?


Porem, caros mortais, o medo ou esse sentimento ou essa inquietação produzida por um possível mal vindouro que seja capaz de gerar morte ou dor, tem sido uma questão decisiva na vida dos mortais quando estes se defrontam com a questão existencial Shakesperiana do "ser ou não ser". Eu, na condição de ser imortal e perfeito, observo a vossa condição de mortal sujeitos a todos os tipos de perigos, ameaças, infortúnios e a idéia de não suportar um perigo, concluo, no fim das contas, que todos os seres mortais temem a morte ou o sucumbir física e emocionalmente em alguma experiência. Não suportar e desaparecer. Não "ser" e não mais "existir". Perder a consciência: MORRER, esse é o grande medo de todos.


Ele, o medo, caros mortais, embora seja, às vezes, sinônimo de covardia, é, na verdade, um instinto básico de sobrevivência, tão importante como a coragem. É um impulso. Algo que mobiliza instantaneamente. Aciona as defesas e então se sabe que está a perigo. O instinto de vida do animal de caça é a coragem. Se assim não o fosse, morreria de fome. Em contrapartida, o da presa é o medo, se não morreria mais facilmente se enfrentasse seu predador do que fugindo. O ser mortal tem essas duas reações instintivas como mecanismo de defesa e de ataque também. Uma mãe, geralmente, se desprende de todo o medo para enfrentar qualquer outro ser para salvar seu próprio filho. O homem, por medo e por não ser burro também, não entra num lago repleto de ariranhas ou na jaula dos leões. O governo americano, por temer uma possível atomização iraquiana, promoveu os "ataques preventivos" (ã-ham! Sei).
A consciência de medo se altera em três momentos: Quando o ser mortal percebe conscientemente, e não só pelos órgãos dos sentidos; o outro é a condição de analisar e julgar as ameaças que se sente, tendo aquela sensação de perigo iminente; e por fim, é a reação do ser mortal propriamente dita, o momento em que se decide se vai lutar ou fugir da ameaça ou do perigo.


Os medos, caros mortais, têm funções extremamente importantes na vida do mortal. É um fator imprescindível ao seu desenvolvimento emocional e o faz reagir diante das situações que se deve enfrentar de qualquer maneira. Fato que contribui para uma consciência mais exata do "que se é", de "como se deve ser" e do "que se é capaz", de seus limites, de quanto ainda se é carente de conhecer, amadurecer e tornar-se competente ante as situações de ameaça.


Quanto a nós, os deuses, não somos diferentes, cara mortal, nosso temor é que todo ser mortal não mais exista ou não mais nos creia, pois assim nossa existência se comprometeria. O medo, a morte e o fim de todos os deuses é o esquecimento. E quase todos morremos esquecidos.
O medo do fracasso torna-se medo do sucesso para aqueles que não tentam.
Hoc volo, sic jubeo; sit pro ratione voluntas lat.
Quero isto, ordeno isto, que a vontade sirva de razão.


Não temam.

Fiquem Bem.

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